recife resiste!


Relato do segundo protesto contra o aumento das passagens (13/01)
14/01/2011, 01:54
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Recife, 13 de janeiro de 2011

Hoje, quinta-feira, houve o segundo protesto contra o aumento das passagens de ônibus. Mas dessa vez os manifestantes tiveram também como mote o aumento do salário dos parlamentares em mais de 60%. A concentração ocorreu na Praça do Diário e contou com cerca de 300 pessoas, dentre elas estudantes, trabalhadores, e aderentes diversos. A manifestação seguiu pela Av. Conde da Boa Vista, desviando brevemente pela Câmara dos vereadores, e tendo seu fim nas proximidades da Av. Agamenon Magalhães, na frente da Secretaria de Transportes.

O protesto foi organizado pelo Comitê contra o aumento das passagens e do salário dos parlamentares, que é formado por militantes do partidos, anarquistas, e apartidários. No entanto, mesmo com organizadores distintos, a manifestação não destoou da anterior, tendo mais momentos de caminhada do que de insistência em fechar vias e provocar congestionamentos, o que causaria um maior impacto à cidade e daria maior visibilidade à causa.

A caminhada contou com um carro de som cujo microfone estava aberto a qualquer um, participante ou transeunte, que desejasse se manifestar. Houve desde discursos formais por parte de determinadas entidades partidárias até discursos espontâneos de trabalhadores ambulantes que foram expulsos do centro com o início da política de higienização da cidade devido à copa do mundo de 2014.

Durante o trajeto os manifestantes carregavam faixas com mensagens como “redução é pouco, passe livre já”, “aumento de passagem é roubo” e “salário de luxo, parlamentar do lixo”. Quando uma moto ameaçou furar o bloqueio dos manifestantes, houve uma tensão com os policiais, e a palavra de ordem passou a ser “polícia fascista” e “polícia pra ninguém, o povo é refém”.

Em suma, a passeata seguiu num clima ameno, no qual o carro de som chamava mais atenção do que os próprios manifestantes, e o grupo de 300 pessoas caminhava por ruas pouco movimentadas, não interferindo de forma significativa no cotidiano da cidade. O único local em que a manifestação de fato parou foi em frente à Secretaria de Transportes, onde os manifestantes pretendiam fazer pressão no secretário Danilo Cabral para que ele recebesse uma carta de reinvidicações produzida pelo comitê contra o aumento das passagens e do salário dos parlamentares.
Este momento foi marcado por uma cisão entre os participantes da passeata, pois alguns (em sua maioria apartidários, anarquistas ou autônomos) desejavam bloquear o trânsito da Av. Agamenon Magalhães, e outros (em sua maioria militantes de alguns partidos) queriam seguir diretamente para a Secretaria a fim de entregar uma carta de reinvidicações ao secretário Danilo Cabral. Centralizando as decisões a serem tomadas, alguns membros do comitê acabaram por legitimar o poder do Estado ao priorizar a entrega de um mero documento em detrimento do fechamento de uma das principais vias da cidade do Recife. Ironicamente, em nome da unidade tão pregada por algumas entidades e pelo próprio comitê, muitos manifestantes acabaram por não agir conforme eles realmente acreditavam ser o melhor, pois um grupo que se achava dono do ato desrespeitou a decisão espontânea da maioria e insistiu em sua proposta inicial até um ponto em que o ato se encontrava completamente disperso, por que pra eles a unidade só fazia sentido quando seguia suas propostas.

A “vitória” do ato foi queimar um boneco de Danilo Cabral numa rua deserta para a mídia corporativa ter ótimas fotos para publicar no jornal de amanhã. A tentativa de acordo com o Estado foi falida tanto por si só como também pelo fato de não haver ninguém na Secretaria para receber a tal carta. Com a decisão intransigente de permanecer no local, o fim do ato foi decretado por um grupo que, além de legitimar o Estado, freiou uma movimentação espontânea dos manifestantantes em nome de um acordo feito anteriormente numa reunião cujas decisões de ferro pareciam não poder ser questionadas ou modificadas na conjuntura real do protesto.

Assim termina o ato: alguns falando de vitória, e outros sentados no meio fio ou simplesmente dispersos, cercados por policiais que já nem ameaçavam o andamento do ato, pois também estavam dispersos e sem acreditar em qualquer movimentação. No entanto, haviam algumas reações à imposição de rumos feita por alguns membros do comitê, sendo estes acusados de centralizadores e antidemocráticos.

Mas, apesar do protesto ter sido finalizado em um clima de frustração, ele ainda sim foi uma resistência válida em meio à forte opressão que a população está sofrendo com o aumento das passagens, o aumento do salário dos parlamentares e com a expulsão dos ambulantes do centro do Recife. É preciso que continuemos encarando esse tipo de ação como válida e necessária para a construção de uma luta sólida e eficaz contra o sistema opressor que não está aberto para negociações e contra o qual devemos lutar com mais maturidade, no sentido de não acabar por reproduzir a lógica de autoritarismo que rege esse mesmo sistema.

Adiantamos que mais atividades desse caráter estão por acontecer, vamos construí-las juntos. Sua participação é essencial!

Recife Resiste!


8 Comentários so far
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É, foi exatamente isso que aconteceu. A toda hora vinham grupos dizendo aonde deveríamos ir, ou fechar tal rua em lugar de outra, adorando a idéia de dar órdens. Eu não sou obrigada a seguir tais ordens, e algumas vezes disse isso abertamente.Os poucos minutos que ficamos na Agamenon foi por pura vontade nossa, pq se dependesse de alguns continuávamos a caminhada só para lá teatralmente queimar o boneco de Danilo Cabrale entregar a merda de uma carta, que supostamente nem será lida e/ou levada em consideração. Por mim acampávamos na Agamenon Magalhães a noite toda, ir pra secretaria das cidades foi um simplesmente “broxante”, essa historinha de entregar documentos é pura enrolação de partidos que se agregam a esses movimentos para ganhar visibilidade. Legitimam o estado a toda hora, querendo fazer sempre a coisa certinha que é sempre o que o estado determina. Nadamos, nadamos e morremos na praia.
Até a próxima.

Comentário por Jucélia Ferreira

Certíssimo Jucélia, mas vamos manter nosso otimismo e disposição para construir a luta independente desses atropelos. :)

Comentário por reciferesiste

Minha participação no ato é legitima independente da minha participação nas reuniões….burocratizaram,monopolizaram e instauraram um caratér de “hierarquia democrática” no comitê.Era esse o meu medo dês do começo da criação dessas comissões de organização do ato.
Repensemos esse tipo de organização!

Comentário por Luz

– Rápida nota sobre palvras de ordem:

Após o começo da tensão com a polícia alguns manifestantes começaram a gritar:

“Polícia é para ladrão/ para estuidante não”

nós já haviamos discutido sobre esta palavra de ordem entre amigxs algumas vezes, o que fez com que na hora de tal grito várias pessoas se revoltassem e pedissem para parar com tal absurdo. Logo substituido por “Polícia/Fascista!”.

Reafirmamos que somos contra a existência das forças políciais, e muito menos para uma classe em especifico e para outra – privilegiada – não.

Polícia…
nem para estudante, nem para ladrão e nem ninguém.

Se a polícia pode fazer algo por nós é desaparecer!

Comentário por reciferesiste

Concordo plenamente, isso acaba reafirmando a ideia de que a polícia tem que preservar a inocencia ou a criminalidade das pessoas, além de trazer o mesmo jargão da época de joão élio.
Também incomodou o uso da mesma melodia do filme Tropa de Elite pra o protesto dos estudantes, podemos ser criativos e trazer novas melodias, sem se respaldar numa música que de tão conhecida no Brasil já virou emblema de uma organização extremamente violenta. Vamos insistir nessa ideia de polícia pra ninguém/fascista/classista no protesto, é essencial!

Comentário por Gabi Andrade

Tem outro nome não pq chamar policia facista não é nada popular..a galera que tá andando na rua não vai entender bulhufas, esses jargões de movimento estudantil estão tão defasados como o mesmo.

Comentário por Igor

Polícia é PRA NINGUÉM,
o povo é REFÉM!

Comentário por Jucélia Ferreira

Lá fui eu, com a minha querida bike

Sai daqui da zona norte de São Paulo até o centro, são uns 14 klm, mas sabe como é né, o busão esta caro e eu não sou rico.

Fiz uma matéria em:
vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=Q7que58VCpk
texto: http://wp.me/p1i8bI-v

Comentário por Ronchi




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